Minhas referências mais antigas, as algas, as pedras, as plantas as quais convivi intensamente na infância continuam sendo objetos de beleza, mistério e encantamento. O encontro entre meu corpo e o corpo desses outros seres sempre foi um princípio para mim. Entender essa experiência como vital passa por um tempo que quero cultivar, ciclos que vão ao encontro do meu ritmo interno, e formas que se relacionam com meu corpo feminino. Traz perspectiva para meu lugar no mundo, e é próxima ao sagrado. A busca por destilar essa conversa que conta tanto de mim é um processo permanente e o eixo central na minha prática artística. 

O fato de ser uma artista que mora em uma cidade urbana como São Paulo só me move ainda mais nessa direção. É crucial sustentar no meu dia a dia esse canal. Para abrir as possibilidades de diálogo preciso ouvir o entorno, por isso meus processos combinam caminhada, desenho, fotografia, costura e o trabalho com argila, na intenção de criar uma linguagem para cada encontro com a unidade que ele é. Ao mesmo tempo, mantenho cadernos de registro que são também meu atelier. Estes dão relevo à matéria orgânica que vem dos processos. É um lugar-corpo, mistura de esboços, frases e leituras. Uma tentativa de organizar fluxos de imagens e pensamentos.

O entendimento de que essas são as conversas que desejo compartilhar, guia meus trabalhos no sentido de fortalecer o encontro também com outras pessoas. Me faz pensar nestes espaços como projetos de reconexão, por meio de grupo de estudos e oficinas que são um convite para deslocarmos o olhar condicionado e pensar no gesto poético como algo poderoso e indispensável.

Pat Lobo (Rio de Janeiro, 1969), vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Graduou-se em Desenho Industrial pela PUC-RJ, possui Mestrado em Design pela FAUUSP. Atualmente divide seu tempo entre projetos comerciais, autorais e como professora da oficina experimental, “A costura do entorno. Uma conversa com as coisas no redor", no Lugar de Ler.

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